É muito interessante como sempre que converso com alguém sobre a abordagem de talentos por um longo tempo, essa pessoa aparece com alguma metáfora interessante para resumir toda a ideia por trás da metodologia e, se tem um lugar onde tenho tido a oportunidade de falar com calma sobre isso com outras pessoas, é no Talentos para o Sucesso, meu podcast onde trato, junto com o Calebe, o Raul e a Vanessa, de temas relacionados à essa ideia.
Em diversos episódios os participantes apareceram com alguma forma alegórica para explicar a forma com a qual eles enxergavam os talentos e a relação destes com diversos personagens do mundo corporativo.
Uma dessas metáforas, porém, se repetiu mais do que uma vez e, por isso, achei interessante trazê-la para cá: a comparação do líder que lidera com base em talentos com um jardineiro.
É importante que eu comece dizendo que não entendo nada de jardinagem. Sou aquele tipo de pessoa que se plantar erva daninha, ela morre. Contudo, consigo facilmente ver a beleza dessa comparação.
Vou, então, contar uma história de um jardineiro e gostaria que você fizesse a interpretação metafórica dela, ok? Depois me conte como você vê tudo isso.
Seu José é um excelente jardineiro que vive em uma casa que, mesmo que simples, nitidamente demonstra ser um local maravilhoso para se morar. Seu vizinho, Seu Waldemar, por sua vez é um senhor amargo, daqueles que você olha e logo percebe que sua vida não deve ter sido muito agradável e deixou marcado em seu rosto a contrariedade de estar vivo.
A casa de seu Waldemar, ainda que grande e luxuosa, é fria, vazia e estéril.
Todos os dias Seu José acorda às cinco horas da manhã, toma um banho e vai, feliz e contente, cuidar de seu jardim. Enquanto assovia e prepara suas ferramentas para o trabalho, Seu José consegue ouvir claramente os resmungos de Seu Waldemar por ter que se levantar tão cedo.
O amargo vizinho se arrasta para fora da cama, toma um café da manhã solitário e faz o que faz todas as manhãs: espia por cima do muro para ver o que José está fazendo. Sua intenção é copiar o jeito do vizinho de cuidar das plantas para que seu jardim, seco e malformado, fique tão vistoso quanto o do adversário.
Seu José tem um carinho muito grande com seu jardim. Ele sabe que o resultado que irá obter no futuro depende totalmente de suas ações de hoje. Por isso ele trata muito bem da terra. Ele cuidadosamente revolve a terra permitindo que ela seja arrefecida, rega-a, a mantém sempre adubada, ou seja, ele sabe que mesmo a melhor semente não florescerá em solo ruim.
O triste vizinho, por outro lado, não tem qualquer cuidado com o solo. Seu pensamento é: “já comprei o solo, tá aí, agora as sementes que façam seu trabalho! Deixem de ser folgadas!”.
Por falar em sementes, Seu José escolhe-as com muito cuidado. Quando decide que quer uma determinada planta, vai até a loja onde as compra e caprichosamente olha semente por semente, analisado aquelas que mais se adequam ao seu solo. Ele também investe em cursos e livros sobre como escolher sementes e, dependendo da planta que deseja, às vezes contrata alguém especializado naquele tipo de vegetal para ajudá-lo no processo de escolha.
Waldemar não. Ele não acha que deva perder tempo com isso. Afinal, ele vai dar tudo o que a semente precisa para crescer, então a semente que se vire. Quando quer uma semente ele simplesmente espera que as sementes cheguem até ele. Na melhor das hipóteses, vai até o lugar mais próximo possível e compra-as às baciadas. Se não florescerem, tudo bem, arranca-as e planta outras.
Uma vez que as sementes estejam compradas, José escolhe cuidadosamente o melhor local para cada uma delas. Plantas que gostam de sombra vão para os locais com mais sombra. Plantas que gostam de sol ficam mais expostas. E assim por diante.
Depois disso, planta-as cuidadosamente. Ele sabe que o tempo investido em colocar a semente da melhor maneira possível no solo, retorna na qualidade das plantas.
Waldemar vê tudo isso que José faz e bufa. Para que tudo isso? Perder tempo com isso?! Seu método é mais simples: semente compradas são jogadas no solo e elas que encontrem seu melhor lugar, talvez até pedindo ajuda para as plantas que já estão ali.
Já na casa simples de José o que se vê é um profissional que cuida da planta desde a semente até que se torne a planta maravilhosa que ele deseja. José rega a plantinha, aduba, conversa com a planta (afinal ele sabe que isso é importante). Às vezes ele até muda a planta de lugar, replantando-a em local onde ela vá se adaptar melhor de acordo com suas características mais marcantes.
Waldemar mal olha para suas plantas. Regar é função de seu regador automático. Ele já está pagando pela água, o que mais elas querem? Se uma planta não está crescendo muito bem, o procedimento é bem simples: arranque-a, jogue-a fora e coloque outra no lugar. Tempo é dinheiro.
Bem, não é surpresa alguma que, ao final José tem um lindo jardim, enquanto Waldemar tem sim algumas boas plantas, mas mesmo essas, se pudessem, arrancariam suas raízes daquele solo e, o mais rápido possível, mudariam para o jardim do Seu José.
E você como cuida do seu jardim?
Abraços do jardineiro Rodrigo Ferreira